Caça grossa
JAVALI
Nome vulgar: Javali
Nome científico: Sus scrofa
Apresentando formas e proporções corporais inconfundíveis, o javali é a espécie de caça maior com mais ampla representação no nosso país.
Podendo atingir grande tamanho(comprimento total de 1,25 a I,70 m e peso podendo alcançar os 140 kg nos machos), o javali ostenta uma silhueta compacta e poderosa, com membros relativamente curtos e fortes, ausência aparente de pescoço e cabeça grande e afunilada, conferindo-lhe um aspecto sólido e resistente, bem complementado por uma pelagem bastante farta e rude, constituído por pêlos mais ou menos compridos - as cerdas.
Nesta espécie, o dimorfismo sexual manifesta-se não só no tamanho e no peso - o macho é maior e mais pesado do que a fêmea - mas também por diferenças na própria estrutura óssea, de que ressaltam no macho, entre outros aspectos, a cabeça mais larga e menos afunilada e a existência de caninos ou presas extremamente desenvolvidos de que o animal se serve principalmente como arma. Estes dentes - navalhas (caninos inferiores)
e amoladeiras (caninos superiores) - constituem o troféu do javali.
Depois de sofrer uma séria redução numérica há algumas dezenas de anos, esta espécie
evidenciou sinais de grande recuperação, ocupando presentemente uma área considerável
do país.
Chama-se ainda a atenção para o facto de ser esta espécie o mais importante portador da
peste suína africana, doença altamente contagiosa e mortífera que, como é sabido, já te
provocado autênticas hecatombes nas explorações de porcos domésticos.
-Habitat e Alimentação
Tal como o porco doméstico, também o javali é um animal omnívoro; assim, os elementos constituintes da sua dieta são frutos,raízes, bolbos, tubérculos, partes aéreas de pequenas plantas, larvas de insectos, pequenos vertebrados (ratos, láparos e lebrachos), ovos e mesmo cadáveres de outros animais. Será no entanto de realçar uma preferência nítida por bolota castanhas e cereais, o que leva à ocorrência de incompatibilidades com a exploração agrícola dado o risco de prejuízos de monta.
Em termos de habitat, esta espécie necessita sobretudo de dois elementos: extensas zona
de abrigo - essencialmente constituídas por matos cerrados - e presença de água.
Comportamento e Reprodução
No tocante à sociabilidade, o javali apresenta a característica de viver em grupos,chamado
varas ou companhias, englobando animais dos dois sexos e de idade variada:
Uma a duas fêmeas adultas, com crias e juvenis do ano anterior;
Fêmeas e machos novos (de 2,3 ou 4 anos);
Machos adultos, não solitários.
De notar que os machos tendem a isolar-se progressivamente com a idade, chegando mesmo ao isolamento completo, só quebrado na época do cio. Quando não.isolados
completamente, são acompanhados de perto por um ou mais machos de 2,3 ou 4 anos,
denominados aios ou escudeiros.
Ambos os sexos parecem tornar-se aptos para a reprodução aos 8 meses aproximadamente.
Nesta espécie o cio não parece ocorrer numa época fixa, ao contrário do que acontece com a maioria das espécies, pelo que não e rara a detecção de ninhadas em várias épocas do ano; de qualquer forma podemos dizer que na maior parte dos casos o cio ocorre nas primeiras semanas de Outubro e a gestação dura em média 120 dias.
As porcas prenhes afastam-se da vara para local isolado onde parem entre 2 a 10 crias. Estas crias - bácoros ou listados - são amarelas, raiadas de castanho escuro mudando de pelagem aos 6 meses, ficando com uma cor geral castanha avermelhada.
Dos 6 meses ao ano chamam-se farropos; e a pelagem escurece progressivamente até
apresentar um tom cinzento anegrado chamando-se então javalis de vara.
GAMO
Nome vulgar: macho - Gamo; fêmea - Gama, Gamela
Nome científico: Cervus dama
É um animal mais pequeno que o veado e de cabeça mais curta, com focinho fino e de corpo compacto; o seu comprimento total varia de 1,30 a 1,50 m e o macho raramente ultrapassa os 120 kg de peso.
A pelagem sofre duas mudanças anuais: a pelagem de Verão mantém-se aproximadamente
durante 4 a 5 meses, desde meados de Abril ate meados de Setembro, altura em que o animal adquire a pelagem de Inverno que se mantém durante o resto do ano.
Com a pelagem de Verão, o animal apresenta uma coloração geral castanha clara um pouco arruivada, com manchas brancas espalhadas pelo dorso e a parte inferior do corpo clara.
No Inverno, as manchas desaparecem totalmente e o tom em geral é de um castanho escuro um pouco acinzentado; as restantes partes do corpo conservam as mesmas cores, com uma tonalidade mais escura.
A cauda, relativamente comprida (cerca de 15 cm), é branca com uma risca central negra na face exterior; o escudo anal é também de cor branca sendo ladeado por duas faixas negras.
O macho distingue-se da fêmea por apresentar durante a maior parte do ano uma armação;esta é constituída no animal adulto por duas hastes espalmadas, arredondadas na base.
Na parte superior da área espalmada desenvolvem-se várias pontas. Aos 7 anos, tal como no veado, a cabeça atinge a sua forma característica.
Habitat e Alimentação
O gamo prefere zonas com abundante arvoredo e matagal, com áreas de pasto. A alimentação é muito semelhante à do veado, variando essencialmente com o habitat.
Comportamento e Reprodução
O cio começa no princípio do Outono e tem uma duração aproximada de um mês. Durante
essa fase, os machos formam haréns (grupos de fêmeas) de composição semelhante aos
dos veados. para a constituição destes grupos, o macho delimita previamente a área em
que se estabelecerá com as fêmeas, impregnando com o seu cheiro árvores e arbustos.
Também nestes cervídeos são vulgares os combates entre os machos mas não apresentam
a violência dos combates entre veados. A brama - grito de desafio do macho - é bastante
menos forte do que a do veado e mais curta e intermitente; na fase mais intensa do cio o gamo brama durante todas as horas do dia.
Fora da época do cio, machos e fêmeas separam-se, permanecendo os jovens até um ano
de idade com as mães.
A queda das hastes, que tal como nos outros cervídeos se verifica todos os anos, dá-se
em Março-Abril e o crescimento de novas hastes começa imediatamente.
Os nascimentos iniciam-se em Maio e as fêmeas parem uma cria, raramente duas. Com
o fim do Verão começa um novo ciclo biológico
VEADO
Nome vulgar: macho - Veado; fêmea.- Cerva,
Nome científico: Cervus elaphus Veada (em português antigo)
O veado é um animal de grande porte - o maior dos cervídeos da nossa fauna - forte mas ágil e prudente, cujas dimensões são muito variáveis (o comprimento total vai de 1,65 até 2,5 m e o seu peso varia entre 100 e 200 kg),. de dorso direito, ombros esguios e garrote saliente.
A cor da pelagem é castanha, levemente avermelhada nos adultos; no primeiro ano de existência, os juvenis, de um castanho mais escuro, apresentam manchas brancas amareladas distribuídas pelo dorso e pescoço. A renovação do pêlo dá-se duas vezes por
ano, em Março e Setembro, coincidindo com as mudanças das estações. O escudo anal é
amarelado até ao nível do ânus e depois branco.
O macho distingue-se normalmente da fêmea por ser mais corpulento e apresentar durante quase todo o ano uma armação, normalmente vigorosa, composta por duas hastes cilíndricas,mais ou menos ramificadas.
Tal como nos restantes cervídeos, estas armações são caracteres sexuais secundários, estando o seu crescimento e queda relacionados com a actividade dos órgãos sexuais e atingem a forma característica por volta dos 7-8 anos de vida.
A armação é ainda indicadora do macho e constitui um troféu de caça.
Habitat e Alimentação
O seu habitat preferido são os bosques de folha caduca e de coníferas-com zonas abertas-
e os matagais.
O veado é um animal de pasto mas recorre igualmente ao estrato arbustivo e arbóreo onde, com a sua grande corpulência, atinge com facilidade a rama de algumas árvores. São
da preferência destes animais as folhas de sobreiro, azinheira, castanheiro, carvalhos, oliveira,zambujeiro, ulmeiro, freixo, choupo e figueira, entre outras. Quanto aos frutos, que
desempenham um papel importante na sua alimentação, têm preferência especial por bolotas (de carvalho, sobreiro, azinheira, carrasco), castanhas, frutos de pilriteiro, azeitonas e figos.
Alimentam-se ainda de alguns cogumelos, líquenes e casca de algumas árvores como por exemplo de oliveira, zambujeiro e ulmeiro.
Comportamento e Reprodução
No final do Verão, princípios do Outono, inicia-se o cio que se prolonga aproximadamente por um mês e durante o qual os veados se reúnem em agrupamentos mistos, formados por um macho e várias fêmeas (são animais poligâmicos). O número de cervas por harém (grupo de fêmeas), varia principalmente com a relação macho/fêmea existente no local e também com a densidade populacional; cada grupo tanto pode ser constituído por um veado e uma cerva como por um veado e dez a vinte cervas.
Para a constituição destes haréns, o macho delimita previamente a área em que se estabelecerá com as fêmeas, impregnando com o seu cheiro árvores e arbustos onde se
esfrega. São vulgares nesta época os combates entre machos, podendo atingir grande violência e provocando por vezes - embora raramente - a morte de um ou dos dois intervenientes. O grito de desafio que o macho lança aos seus rivais na época do cio chama-se brama -ronco seco, profundo e prolongado, que faz lembrar o berrar de um touro - que começa essencialmente ao fim da tarde e que se pode prolongar até às primeiras horas da manhã.
Nos restantes meses do ano os machos adultos e as fêmeas separam-se, formando grupos distintos, enquanto que os jovens até um ano de idade permanecem geralmente no agrupamento das fêmeas.
A queda da armação, que se verifica todos os anos, dá-se em fins de Fevereiro e Março e o crescimento de novas hastes começa imediatamente; nos animais mais velhos as hastes caem primeiro, sendo os animais com 2 anos (primeira cabeça) os últimos a perdê-las. Durante o seu desenvolvimento as hastes apresentam-se cobertas pelo veludo.
Na época do cio seguinte já todos apresentam as cabeças completamente refeitas mas enquanto não se forma a nova "cabeça", os machos escondem-se no mato, sendo bastante difíceis de observar.
os nascimentos começam em Abril e as fêmeas (que podem criar pela primeira vez aos 2 anos) parem uma cria, muito raramente duas. Durante as duas primeiras semanas de
vida a cria não abandona o local onde nasceu, permanecendo a mãe sempre nas imediações.
Passado este tempo, as fêmeas e as crias reúnem-se em rebanhos mais ou menos fixos, sendo os jovens amamentados até à época do cio seguinte.
Com o fim do Verão começa novamente o cio destes animais, fechando-se assim o seu ciclo biológico.
CORÇO
Nome vulgar: macho - Corço; fêmea - Corça
Nome científico : Capreolus capreolus
Espécie cuja capacidade de adaptação e sem dúvida das mais notáveis, é o mais pequeno dos cervídeos portugueses, de aspecto gracioso mas compacto.
Sobretudo activo durante a madrugada e o fim do dia, passa a maior parte do tempo restante embrenhado no coberto, comendo ou repousando; este facto, aliado ao comportamento arisco que o caracteriza, bem como ao tipo de terreno em que geralmente se encontra, faz com que estes animais dificilmente sejam vistos, mesmo pelas pessoas que frequentam os locais por eles habitados.
Em comparação com o veado - entre os nossos cervídeos sem dúvida o mais conhecido
- o corço é um animal bastante mais pequeno, variando o seu peso entre os 15 e os 30 kg;
as suas armações são também mais pequenas e menos ramificadas: geralmente a armação
dos animais adultos não atinge mais do que três pontas em cada haste, dizendo-se então
que o animal tem uma cabeça de seis pontas. Ao contrário do que pode acontecer com o
veado, a armação do corço não nos dá a indicação precisa da idade do animal pois o número de pontas, bem como o aspecto geral da cabeça, dependem mais de factores como a alimentação, estado de saúde, número de animais por hectare, entre outros, do que propriamente da idade.
No que respeita ao dimorfismo sexual, ele é sobretudo patente no facto de, tal como no veado e no gamo, só os machos possuírem armação. No entanto, durante a época do ano em que os machos não têm armações ou mesmo em situações de visibilidade difícil, é possível distinguir o macho da fêmea pela forma do escudo anal: no macho é em forma de rim e na fêmea é em forma de coração.
Habitat e Alimentação
Eminentemente esquivo, o corço encontra-se de preferência em zonas onde a vegetação se caracteriza por uma alternância de bosques e prados, com culturas e zonas de mato de densidade e altura variáveis.
Embora tímidos e desconfiados, não é invulgar encontrarem-se corços nas vizinhanças das povoações, desde que exista abrigo apropriado nas imediações. Esta aproximação deve-se à procura - para a alimentação - das culturas que normalmente se situam ao redor das aldeias. De qualquer modo, os estragos provocados por estes animais não são, salvo raríssimas excepções, sensíveis, pois que, para alem de preferirem comer aqui e ali, os corços também dependem bastante da vegetação arbustiva, como giesta, urze, silvas e outros arbustos.Os frutos encontrados no chão (castanha, bolota, cereja, etc.), bem como alguns cogumelos,fazem parte também da alimentação destes animais.
Comportamento e Reprodução
No aspecto comportamental e reprodutivo, há também profundas diferenças entre esta espécie e os restantes cervídeos portugueses.
O corço é um animal fundamentalmente solitário, não formando - no nosso país - rebanhos,mesmo durante o Inverno; acresce que, no caso dos machos, há uma fase do ciclo de vida - iniciada geralmente em Março com a limpeza do veludo que cobre as hastes - a que corresponde a delimitação de uma área de tamanho variável, através da secreção de glândulas especiais e marcas efectuadas com as hastes em arbustos e árvores jovens; o macho passa então a defender esta área, o território, dos outros machos adultos. Este tipo de comportamento prolonga-se até ao cio, que em Portugal ocorre entre Julho e Agosto.
Os partos ocorrem geralmente em Maio; a gestação anormalmente longa da corça (10 meses) explica-se pelo fenómeno da implantação retardada, que se resume à paragem do desenvolvimento do ovo logo após a fecundação, recomeçando só em Dezembro/Janeiro (o embrião mede nesta altura só 2 cm), desenvolvendo-se então o processo de forma normal até às parições, que vão assim ocorrer numa época especialmente favorável em termos alimentares.
As fêmeas podem ter a primeira criação com a idade de 2 anos. Parem com alguma frequência duas crias (de sexos diferentes), por vezes só uma cria e raramente três (as fêmeas mais velhas).
MUFLÃO
Nome vulgar: Muflão
Nome científico: Ovis ammon
O muflão é um "carneiro selvagem" de pelagem curta; os machos têm cornos recurvados (o troféu nesta espécie), e nas fêmeas, quando estão presentes, são muito pouco desenvolvidos.
Esta espécie apresenta valores médios de peso entre 25 e 50 kg, um comprimento total de 1,10 a 1,30m e a sua altura ao garrote pode variar entre 65 e 75 cm.
As origens do muflão não estão esclarecidas ainda, havendo autores que defendem ter esta espécie origem em carneiros domésticos introduzidos em ilhas mediterrânicas (Sardenha e Córsega).
Actualmente, apresenta ampla distribuição europeia (Europa Central e Meridional) embora
em Portugal a sua introdução seja muito recente e muito localizada.
No muflão, o cio ocorre em Novembro e as parições verificam-se normalmente em Abril.
A espécie é sociável, no Verão os machos adultos reúnem-se em grupos independentes de
outros grupos, formados por fêmeas e jovens.