Caçadeiras
ESPINGARDAS CAÇADEIRAS
As espingardas caçadeiras mais correntes têm um ou dois canos.
ESPINGARDAS CAÇADEIRAS DE UM CANO
Podem ser de um só tiro ou de repetição; neste caso, podem ser de repetição manual ou semi-automáticas.
As de repetição manual, para cada tiro, exigem a acção do atirador sobre um mecanismo para recarregamento da câmara, a partir de um depósito de cartuchos.
As semi-automáticas, chamadas correntemente "automáticas", depois de carregadas manualmente com o primeiro cartucho na câmara, são recarregadas automaticamente por acção do tiro, com os cartuchos contidos no depósito. As armas verdadeiramente automáticas são armas militares, em que uma única pressão no gatilho pode provocar tiros em rajada.
Nas espingardas semi-automáticas e necessário puxar o gatilho para cada tiro até esgotar
os cartuchos com que estava carregada.
ESPINGARDAS CAÇADEIRAS DE DOIS CANOS
Podem ser de canos justapostos, quando estão colocados lado a lado em plano horizontal,
ou de canos sobrepostos, quando estão um sobre o outro.
Nas que têm dois gatilhos, o primeiro, o gatilho da frente, dispara normalmente o cano
direito nas de canos justapostos e o cano de baixo nas de canos sobrepostos.
As que têm um só gatilho espingardas mono-gatilho disparam os canos na
mesma sequência indicada, podendo no entanto possuir um mecanismo de selecção que permite escolher qual o cano que se quer disparar em primreiro lugar. Diz-se então que são de mono-gatilho selectivo.
CANOS
Os canos, construídos em aço de grande resistência, têm gravadas várias inscrições que
não só identificam o fabricante mas registam também características e provas de resistência a que foram submetidos. Assim, é actualmente obrigatório que estejam indicados nos canos os seguintes elementos: número da arma, calibre, comprimento das câmaras, chokes,diâmetro das almas, pressão de prova e as marcas ou punções do banco de provas do país de origem.
Frequentemente é também indicado o fabricante dos aços,o peso dos canos e o ano de fabrico.
Os canos têm geralmente entre 65 e 75 cm de comprimento, sendo o mais corrente na
actualidade de 70 cm. Normalmente usam-se canos mais curtos para atirar perto, mas com certas características de que adiante falarem os (choke), são igualmente eficazes para tiros mais afastados.
Um caçador de pequena estatura tem vantagem em usar uma espingarda de canos curtos,
visto proporcionar melhor equilíbrio.
No cano identificam-se quatro zonas:
Câmara - Zona do cano junto à culatra, onde se introduz e é percutido o cartucho.
Alma - Superfície interior do cano.
Estrangulamento, também chamado choke - Redução do diâmetro da alma numa pequena extensão (aproximadamente 5 cm) junto à boca do cano.
Boca - Extremidade final do cano por onde sai a carga de chumbos ou a bala.
Nas armas com báscula, as peças salientes por baixo das câmaras podem designar-se por blocos de fecho ou grampos e servem para articular os canos na báscula, recebendo nos seus entalhes os trincos de fecho, comandados pela alavanca de abrir.
Sobre o cano ou entre os dois canos justapostos estão os auxiliares de pontaria, a fita e o ponto de mira.
CÂMARAS
Para igual calibre, o comprimento da câmara é um dos factores que determina a potência da munição que pode ser usada numa espingarda. O seu comprimento é expresso em milímetros ou em polegadas.
Os comprimentos mais vulgares são 65 mm (2 * 1/2 polegadas) e 70 mm (2 * 3/4 polegadas).
As armas modernas têm na generalidade câmaras de 70 mm.
Quanto a outros comprimentos de câmara, existem ainda espingardas calibre 12 com câmaras de 50 mm (2 polegadas), embora pouco vulgares, e espingardas com câmaras 76 mm (3 polegadas), hoje bastante divulgados sobretudo para a caça aos patos e aos pombos.
Em calibre 20,uma espingarda com câmaras 76 mm pode equivaler e substituir uma espingarda calibre 12 de câmaras 65 ou 70 mm.
As armas de câmara 76 mm são designadas por magnum, por exemplo calibre l2 magnum
ou calibre 20 magnum.
Atenção:
A dimensão das câmaras corresponde ao comprimento dos cartuchos antes de serem fechados ou rebordados.
Um cartucho de 70 mm cabe numa câmara de 65 mm, mas ao ser disparado o rebordo não pode abrir totalmente, o que dificulta a passagem da carga para o cano e aumenta
perigosamente a pressão na câmara.
Nunca dispare cartuchos de câmara 70 numa arma com câmaras 65 nem cartuchos câmara 76 numa arma com câmara 70.
Antes de utilizar uma espingarda, verifique sempre o comprimento das câmaras. Esta indicação pode estar por baixo de cada câmara, na zona plana que encosta à báscula, ou na parte lateral do cano, junto da caixa de culatra ou da báscula. As inscrições apresentam-se por exemplo como: 12/70 ou l2-2*3/4.
Caso não haja qualquer indicação, solicite a um armeiro que faça a verificação.
ALMAS - CALIBRE
A alma dos canos das espingardas caçadeiras caracteriza-se pelo seu calibre.
As espingardas mais utilizadas na caça menor são de calibre 12 e 20.Até há alguns anos
usou-se muito o calibre 16.
Estes números utilizados universalmente para designar calibres de espingardas caçadeiras, correspondem à quantidade de esferas com o diâmetro da alma do cano que se podem fundir com o peso de uma libra (aproximadamente 454 gramas) de chumbo. Em português,
um calibre expresso desta forma designa-se por adarme, apesar de se utilizar na linguagem corrente o termo calibre.
Assim, por exemplo, uma espingarda calibre 12 é aquela cujo diâmetro da alma é igual ao de uma das doze esferas idênticas que se produziriam com urna libra de chumbo.
O diâmetro da alma de um cano calibre 12 é no mínimo 18,2mm, um calibre l6 tem 16,8 mm
e um calibre 20 tem 15,6 mm. As normas de fabrico têm uma tolerância para mais 0,7 mm
no calibre 10 e 12 e mais 0,5 mm nos restantes.
Quanto mais pequeno for o calibre de uma espingarda, tanto maior e o número que o designa.
As armas de maior calibre e peso permitem a utilização de maiores cargas de chumbo e pólvora mas são mais incómodas e cansativas. As de menor calibre têm menores cargas
mas manejam-se e transportam-se mais facilmente.
ESTRANGULAMENTO OU CHOKE
A boca do cano de uma espingarda pode ser ligeiramente estrangulada. A este estrangulamento é hábito chamar-se choke, palavra inglesa que designa aperto. O choke actua sobre a carga de chumbos de uma forma semelhante ao efeito provocado por uma agulheta numa mangueira.
Assim, o choke aperta a chumbada, permitindo que, a uma certa distância, a concentração
de chumbos seja maior do que com um cano cilíndrico. Tem portanto as vantagens de reduzir os espaços vazios entre os chumbos e aumentar ligeiramente o alcance útil, mas o inconveniente de diminuir o diâmetro total da chumbada tornando o tiro mais difícil.
Apresentamos seguidamente um quadro com as designações tradicionais do choke, que são indicados por ordem decrescente de estrangulamento, acompanhados da correspondente diminuição do diâmetro da alma e do símbolo usado actualmente nos canos das espingardas.
Pode ainda haver canos com a designação de extrafull choke, cujo estrangulamento é ligeiramente superior a 1mm. Há ainda canos que, em lugar do estrangulamento, aumentam de diâmetro na zona onde existiria o choke. Qualquer destas soluções é no entanto pouco comum.
A transição da alma do cano para o estrangulamento é feita por uma rampa cuja maior ou
menor dimensão é de grande importância para a distribuição da chumbada. Nas armas de
qualidade, as almas dos canos, as rampas dos chokes e os próprios chokes são ensaiados na fábrica e alterados até se obter urna boa distribuição dos chumbos e a concentração que o cliente encomendou.
Uma arma de dois canos tem a vantagem de poder dispor de dois estrangulamentos diferentes,normalmente o menor no primeiro tiro e o maior no segundo. A combinação mais versátil para quem tenha só uma arma de caça será ter 1/4 de choke no primeiro tiro e 1/2 choke no segundo, ou caso prefira maior concentração da chumbada,1/2 choke no primeiro full choke no segundo.
Como indicação, podemos referir que normalmente se caçam coelhos com canos abertos,
isto é, pouco estrangulados (tiros a curta distância), perdizes com canos médios, e patos - quando passam altos - com canos fechados. No entanto, não há regras fixas, dependendo do tipo de terreno e da época em que se caça.
Convém ainda salientar que um tiro de um cano muito estrangulado a curta distância, ao
atingir o alvo, desfaz a peça de caça.
Para utilização com balas, deve escolher-se um cano com o menor estrangulamento possível.
As balas com aletas de deformação, ou outro sistema apropriado, podem no entanto ser disparadas em armas com canos mais apertados (meio choke ou full-choke) mas contribuem para o maior desgaste dos canos, desenvolvendo também maiores pressões.
MECANISMO
ESPINGARDAS DE DOIS CANOS
Os sistemas mecânicos de percussão nas armas de dois canos, embora com grandes variações, podem ser basicamente de dois tipos:
De meias platinas ou sistema Anson, em que todo o mecanismo está contido dentro da
báscula. E o sistema mais simples e robusto, com menor número de peças e mais barato.
A báscula é no entanto menos resistente e o sistema de gatilho menos seguro, salvo alguns casos especiais.
De platinas inteiras, em que cada mecanismo está fixo a uma chapa de aço, a platina, que está aplicada aos lados da báscula. A principal vantagem das platinas inteiras é possibilitar uma báscula mais robusta e uma maior segurança contra disparos acidentais, uma vez que a maioria possui uma barra interceptora que impede a queda do cão sobre
o fulminante, no caso de uma pancada ou queda violenta da arma.
As armas de platinas inteiras são de mais difícil execução e portanto mais caras na generalidade dos casos.
Existem armas que apresentam chapas laterais à báscula, semelhantes às platinas, mas cujo mecanismo é idêntico às armas de meias platinas, sendo essas chapas destinadas unicamente à decoração da arma. Chamam-se espingardas de falsas platinas.
Em qualquer destes sistemas, a abertura da espingarda, para carregamento, faz mover as
alavancas de armar existentes dentro do bloco da báscula. Estas alavancas armam os cães
ou martelos. O movimento de abrir a arma actua também sobre o sistema de extracção ou
ejecção de cartuchos, cujo mecanismo está normalmente contido no fuste e entre os canos.
As espingardas com extractores levantam os cartuchos da câmara para serem retirados manualmente. As espingardas com ejectores, também chamados extractores automáticos,
projectam para o exterior os cartuchos disparados.
ARMAS SEMI-AUTOMATICAS
As armas de um só cano actualmente mais utilizadas são as espingardas semi-automáticas.
O sistema mecânico destas armas, após o carregamento inicial feito pelo atirador, baseia-se no aproveitamento da energia do recuo da arma, ou dos gases desenvolvidos na combustão da carga de pólvora para abrir a culatra, expulsando o cartucho disparado e fazendo funcionar o sistema de elevação dos cartuchos do depósito para a câmara, armando simultaneamente o cão e fechando a culatra por acção duma potente mola.
Estas armas, dispondo de um só cano, não permitem a escolha entre dois chokes no momento do tiro, como acontece nas armas de dois canos. No entanto, podem carregar-se com três munições, uma na câmara e duas em depósito, aumentando assim a capacidade de fogo,sendo por isso consideradas, por muitos, pouco desportivas.
Caso possibilitem a introdução de mais de três cartuchos (quando utilizadas na caça) deverão ser transformadas aplicando-se um limitador, de forma a não ser possível o seu carregamento com mais de 3 munições, incluindo aquela que for colocada na câmara.
MECANISMO DE DISPARO
A descrição do funcionamento do mecanismo de disparo é semelhante, quer para as armas de dois canos quer para as armas sermi-automáticas. As peças que os compõem são no entanto totalmente diferentes.
O esquema apresentado refere-se a uma espingarda de dois canos, de meias platinas.
A pressão do dedo sobre a cauda do gatilho (1) faz rodar a patilha do gatilho (2) sobre
o seu eixo.
A patilha do gatilho actua sobre o armador (3) e este liberta o cão (4), também chamado
martelo que sob pressão da mola real (5) faz com que o percutor (6) bata violentamente
no fulminante do cartucho, inflamando a carga de pólvora.
Ao abrir a arma, a alavanca de armar (7) arma de novo os cães.
O sistema de segurança ou travão ( impede o movimento do gatilho, mas não impede que o armador salte do seu entalhe no cão sob a acção de uma pancada e assim se dispare a arma mesmo estando travada. Por isso, não se deve confiar excessivamente no travão da arma. Normalmente a posição de fogo é para diante e a segurança (travada) para trás. Nas semi-automáticas com segurança de botão, a posição de fogo é carregando da direita para a esquerda e a posição de segurança da esquerda para a direita.
O guarda-mato (9) faz parte também dos sistemas de segurança e serve para proteger os
gatilhos de contactos acidentais durante a utilização da arma.
CORONHA
A madeira mais usada para o fabrico de coronhas é a nogueira. E simultaneamente leve e
resistente, facilmente trabalhável e bastante estável face às variações de temperatura e humidade. Na actualidade, é possível em certas armas ter coronhas feitas em matéria plástica ou em laminado de madeira. Têm a vantagem de serem mais estáveis e muito mais baratas mas não valorizam a arma.
Para o êxito do tiro com uma espingarda caçadeira é fundamental a sua perfeita adaptação ao atirador. Esta adaptação faz-se através da forma e dimensões da coronha.
Os principais elementos de adaptação da coronha ao atirador são os seguintes:
- O comprimento, medido do gatilho (ou primeiro gatilho) até ao meio da chapa de coice;
- A queda, posição da crista relativamente à linha de mira, é medida normalmente em dois pontos: no nariz da crista, junto ao punho, e no talão da coronha, na parte superior da chapa de coice. Uma coronha com pouca queda designa-se por direita e com muita queda designa-se por caída;
- O desvio lateral, cast off ou avantage, é o afastamento do plano vertical da coronha relativamente ao eixo da linha de mira. No caso dos esquerdinos, o desvio é para a esquerda da linha de mira e chama-se cast in;
- As coronhas podem ainda ter almofada, que é uma saliência para encostar a cara que se usa sobretudo nas carabinas.