Munições

02-05-2012 04:37

MUNIÇÕES

As munições das espingardas caçadeiras são designadas por cartuchos, termo este proveniente da antiga forma de embalar as cargas das armas de carregar pela boca.
O cartucho actual é constituído pelos seguintes componentes:

- Invólucro (1), em cartão ou plástico, com uma base ou copela (2) em latão, e que constitui a embalagem de todos os restantes componentes;

- Fulminante (3), pequeno recipiente metálico contendo substância detonante, destinado a inflamar a carga de pólvora quando percutido. E encaixado num orifício na base do cartucho;

- carga de pólvora (4), colocada no fundo do invólucro, em contacto com o encaixe para o fulminante;

- Bucha (5), peça cilíndrica em plástico ou material biodegradável (feltro ou aglomerado de cortiça), que se coloca entre a pólvora e a carga de chumbos;

- carga de chumbos (6), conjunto de pequenas esferas, em liga de chumbo e outros metais, que constituem os projécteis destinados à caça menor, para caça maior a carga de chumbos é substituída por uma projéctil único, a bala;

- Disco de fecho (7), que evita que a carga de chumbos caia do cartucho. os cartuchos
de plástico são normalmente fechados a quente, em estrela, com o próprio plástico do cartucho, não levando disco de fecho.

 

O fulminante, pelo efeito do choque do percutor inflama a pólvora. A libertação dos gases resultantes da combustão da pólvora exerce uma forte pressão sobre a bucha que, por sua vez, a comunica à carga de chumbos, a qual é expelida para a boca do cano.
A bucha protege os chumbos do enorme calor desenvolvido, evitando que se fundam. A elasticidade da bucha contribui para atenuar o choque da "explosão" evitando a deformação dos chumbos e reduzindo o recuo da arma.
Sempre que possível devem usar-se.cartuchos e buchas de material biodegradável para evitar a poluição. Não se devem deixar no campo os cartuchos vazios que se disparam.
Existem chumbos de diferentes diâmetros que devem ser seleccionados de acordo com as espécies que se caçam (ver quadro).

 

O tamanho dos chumbos exprime-se por um número convencional, que varia ligeiramente conforme as normas utilizadas nos países produtores. Por isso, algumas embalagens actuais indicam também o diâmetro do chumbo.
Quanto menor o número convencional de referência do chumbo, maior é o seu tamanho, ou seja, o seu diâmetro.
Os chumbos de diâmetro superior a 4,5 mm, designam-se por zagalotes, sendo PROIBIDA
a sua utilização para qualquer tipo de caça, quer pelo risco para os outros caçadores, devido à facilidade com que fazem ricochetes, quer pela maior probabilidade de ferirem a caça sem a matarem.


Atenção:
Nunca juntar cartuchos calibre 20 e calibre 12
Um cartucho calibre 20 introduzido por engano numa espingarda calibre 12 ficará preso no final da câmara e permite que caiba um cartucho calibre 12 por cima. Ao disparar, a arma rebentará com consequências gravíssimas para o atirador.
Este acidente acontece, pelo que todos os cuidados são poucos em não misturar cartuchos.


O TIRO

O tiro à caça menor com espingarda caçadeira deve sempre ser um tiro em movimento.
Atirar a uma peça de caça menor parada ou pousada é indigno de um caçador que tenha
respeito por si próprio e pelas espécies que caça.
Só com bala é legítimo atirar à caça parada, pela razão de que o tiro com bala oferece em
si dificuldade suficiente, enquanto que atirar uma "nuvem" de chumbos a uma peça imóvel
não tem qualquer valor ou dificuldade e a caça se não for difícil não é caça.
Capturar ou abater e recolher o animal caçado chama-se, em linguagem de caça, cobrar.

CORRER A MÃO

O tiro a uma peça de caça em movimento exige do caçador enorme rapidez no ajuizar se
o animal é ou não espécie que possa caçar, se é ou não seguro atirar nas circunstâncias em que estiver, se está ou não a distância a que possa abater a peça e, por fIm, fazer o tiro, movendo-se em conjunto com a arma, de forma a seguir e ultrapassar ligeiramente a peça de caça e nesse momento premir o gatilho.
Tudo isto se passa em segundos ou fracções de segundo e a este movimento chama-se correr a mão; exige treino e com o treino vem o ajuizar, por instinto, se a situação é ou não propícia e segura para o tiro.

 

PESO DOS GATILHOS

A força medida em quilogramas, que se aplica sobre a cauda do gatilho para fazer disparar a arma, chama-se peso do gatilho.
Numa espingarda caçadeira com dois gatilhos, o segundo deve ter sempre um peso superior ao primeiro, isto é, deve exigir maior esforço para ser pressionado pela razão de que, com o "coice" do primeiro tiro, poderá disparar-se o segundo se o gatilho for demasiado leve.
Esta situação é sempre muito perigosa.
O peso do primeiro gatilho não deve ser inferior a 1,7 kg e o do segundo não deve ser inferior a 1,9 kg.

RECUO OU COICE

As espingardas ao serem disparadas, produzem o recuo, vulgarmente chamado coice.
A sensação do coice no ombro e na cara depende sobretudo do peso da arma, da forma da coronha e da sua adaptação ao atirador, sendo também de alguma importância as características do cartucho e o diâmetro da alma.
Para os mesmos cartuchos terá menor recuo a arma mais pesada e aquela cuja coronha estiver melhor adaptada à conformação física do atirador.
O recuo exagerado é o factor que mais pode prejudicar a capacidade de alguém se tornar num bom atirador. Frequentemente, o receio antecipado da pancada do recuo faz errar o tiro.

ALCANCES

A energia dos projécteis depende do seu peso e da velocidade que a carga de pólvora lhes imprimiu. Como a velocidade se vai reduzindo à medida que a distância do alvo aumenta, a energia vai também baixando, até não ser suficiente para matar a peça de caça. Por outro lado, diz-se que a densidade da chumbada é maior quando os chumbos vão mais juntos e é menor quando vão mais afastados uns dos outros. A medida que a distância aumenta, a densidade da chumbada diminui, isto é, os chumbos afastam-se uns dos outros, até que, ou a peça de caça pode caber no intervalo entre os chumbos ou é atingida por um só chumbo que, sozinho, pode não ter energia para a matar.Em função destes parâmetros, consideram-se de três tipos o alcance de um tiro de espingarda:alcance útil, alcance máximo normal e alcance máximo acidental.

ALCANCE ÚTIL

É a distância ate à qual a energia e a densidade dos projécteis, os chumbos, permitem matar seguramente uma peça de caça, desde que o tiro seja bem centrado. Dentro do alcance útil duma espingarda, a peça de caça deve ser atingida por mais de que um chumbo. O alcance útil de uma espingarda é de cerca de 30 a 40 metros, com variações dependendo da carga e do cano.
Um caçador responsável deve habituar-se a avaliar as distâncias para evitar atirar ou ferir
inutilmente uma peça de caça fora do alcance útil da espingarda. Podemos referir, como
comparação, que 30 metros é a altura de um prédio de 5 andares e cerca do dobro da altura de um pinheiro alto.

ALCANCE MÁXIMO NORMAL

É a distância máxima que é possível os chumbos atingirem, sendo a espingarda disparada
segundo um determinado ângulo com o solo (cerca de 20 a 30 graus relativamente à horizontal).
O alcance máximo depende sobretudo da dimensão dos projécteis mas também em pequena parte do comprimento dos canos, do choke e da carga dos cartuchos.
Simplificando, podemos dizer que os chumbos de maiores dimensões e peso vão mais longe.
O quadro seguinte indica, para as dimensões dos chumbos mais frequentemente utilizados a ordem de grandeza dos alcances máximos normais.

 

ALCANCE MAXIMO ACIDENTAL

Resulta da formação de um "cacho" de chumbos. Os chumbos podem juntar-se acidentalmente,devido à alta temperatura dos gases de combustão, que os fundem parcialmente, soldando-se uns aos outros. No caso limite, o cacho comporta-se como uma bala; pode então atingir uma distância bastante maior do que o alcance máximo normal. O perigo torna-se maior visto que o projéctil resultante, com forma irregular, é muito impreciso.A formação acidental deste projéctil, que é costume designar-se por
"embalamento" pode ter várias origens, nomeadamente: bucha defeituosa ou mal colocada, chumbos insuficientemente "endurecidos" (liga demasiado rica em chumbo), cano com o interior muito corroído.
Esta situação é relativamente rara, mas pode acontecer sem se esperar e, por isso, é fundamental a seguinte regra de segurança: nunca se atira a uma peça de caça quando alguém se encontra na direcção do tiro, mesmo que esteja para lá do alcance máximo normal.

 

CARABINAS

As carabinas de caça distinguem-se por terem o cano com alma estriada e acessórios de
pontaria mais aperfeiçoados que os utilizados nas espingardas caçadeiras.

ALMA ESTRIADA

As estrias são pequenos sulcos abertos na alma do cano que formam uma espiral ao longo do seu comprimento e provocam um movimento de rotação na bala que se mantém até esta atingir o alvo.
As estrias caracterizam-se pelo número e forma dos sulcos e pelo seu passo. O passo das
estrias é dado pelo comprimento de cano necessário para a bala fazer uma volta completa,
ou seja, uma rotação.

ACESSORIOS DE PONTARIA

As carabinas identificam-se exteriormente sobretudo pela presença de acessórios de pontaria mais aperfeiçoados do que nas caçadeiras. Enquanto nestas existe normalmente um ponto de mira de pequenas dimensões junto à boca do cano, nas carabinas existe um ponto de mira e uma alça.
A alça é constituída por uma peça em aço ou matéria plástica, com um pequeno corte em V ou em U, colocada sobre o cano um pouco adiante da caixa de culatra e destina-se a
permitir um tiro de precisão a maior distância. Pode ser fixa ou regulável, permitindo neste caso correcções laterais e verticais para ajuste da pontaria a diversas distâncias.
A pontaria é conseguida alinhando visualmente a alça, o ponto de mira e o alvo.
Existe ainda um outro tipo de alça, o diopter, usado sobretudo no tiro ao alvo mas pouco usado na caça.
Modernamente quase todas as carabinas de caça dispõem de um óculo de pontaria também chamado mira telescópica.
É um aparelho óptico composto por um tubo metálico que encerra hermeticamente um conjunto de lentes e um retículo de pontaria. Este retículo é ajustável em altura e direcção e é constituído por duas linhas perpendiculares que se cruzam ao centro do campo de visão do óculo. Conforme os modelos estas linhas podem ter formas ou espessuras diferentes. A ampliação da imagem no óculo "aproxima" o alvo um certo número de vezes, permitindo, com o retículo, uma visão muito mais nítida do ponto a atingir e portanto uma maior eficácia no abate do animal
Nalguns óculos, o cruzamento das linhas do retículo é substituído por um ponto luminoso, que não tem qualquer função de iluminação do alvo.
O óculo usa-se sobretudo para caça de aproximação e espera. Em batidas e montarias não
é particularmente necessário porque os tiros são normalmente a curta distância. Os oculos envolvem ainda alguns riscos porque o seu limitado campo de visão permite que, nos tiros em movimento, seja possível correr a mão na direcção dum companheiro, dum matilheiro ou de cães, sem que o atirador se aperceba senão tarde de mais.
No entanto, para pessoas com a vista cansada, que tenham dificuldade em alinhar com nitidez a alça, o ponto de mira e o alvo, justifica-se plenamente a sua utilização, sendo de
escolher, para montaria, um modelo com pequena ampliação e grande campo de visão.


Atenção:
Ao ensaiar uma carabina deve certificar-se de que tem uma barreira alta e sólida (areia ou terra) contra a qual vai atirar.
Caso use um óculo deverá ter sempre uma pessoa junto a si, para vigiar o campo de tiro, visto que, ao olhar através do óculo não terá a possibilidade de ver alguém aproximar-se e eventualmente cruzar a trajectória de tiro. As consequências podem ser trágicas!
Com uma carabina equipada com óculo o atirador deve manter a cara afastada da lente ocular - aquela por onde olha - aproximadamente 8 a 10 cm (cerca de uma mão travessa").
A montagem de um óculo sobre uma carabina deve ser feita por um armeiro experiente
e com as peças apropriadas. E perigoso improvisar!


ALGUNS TIPOS DE CARABINAS

As carabinas de caça podem em geral classificar-se nos seguintes tipos:

- De repetição manual:
Têm um depósito fixo ou um carregador amovível para armazenar várias munições.Após o tiro, acciona-se manualmente a culatra, expulsando-se o cartucho vazio e introduzindo-se nova munição na câmara.

- Semi-automáticas:
Têm normalmente carregador amovível e o recarregamento faz-se por acção da força do recuo ou dos gases desenvolvidos pela combustão da pólvora, não sendo necessário manobrar a culatra manualmente, senão para a introdução da primeira munição na câmara.
Para uso na caça, têm que estar previstas ou transformadas para que não possam ser
carregadas com mais de 3 munições, incluindo aquela que for introduzida na câmara.

- Monotiro:
São de um só cano e de um só tiro, tendo o cano articulado em báscula ou possuindo outro tipo de culatra.
As que têm báscula designam-se pelo termo alemão Kiplauf e são normalmente muito leves, usando-se sobretudo para caça de aproximação em montanha.

- De dois canos - Express:
Têm báscula, e os canos podem ser justapostos ou sobrepostos. usam-se sobretudo para tiro em movimento, em batidas e montarias.

 

- Mistas de dois e de três canos:
As armas mistas de dois canos, sobrepostos ou justapostos, têm um cano liso e outro
estriado.
As armas de três canos são designadas pelo termo alemão drilling quando têm dois
canos lisos e um estriado, e express-drilling quando têm dois canos estriados e um liso.
Qualquer destes três tipos de armas é pouco usado em Portugal.

 


Atenção:

Em Portugal, as armas mistas, as drilling e as express-drilling podem ser usadas, na caça maior, carregadas só com munição com bala, e na caça menor só podem ser utilizadas
com cartuchos carregados com chumbo. O porte simultâneo de munições com bala e de munições com chumbos é proibido.
As carabinas de pressão de ar e as carabinas calibre .22 de percussão anelar não são
classificadas, em Portugal, como armas de caça, pelo que não podem ser usadas para
esse fim.