Não cinegéticas
ESPÉCIES NÃO CINEGÉTICAS
Naturalmente que ficou bem claro que as espécies atrás referidas são as únicas consideradas cinegeticas, pelo que: não esqueça:
Toda e qualquer espécie que não seja mencionada no capítulo anterior não pode
ser objecto de caça, merecendo inclusive, na sua esmagadora maioria, o estatuto de espécies integralmente protegidas.
não esqueça ainda:
E proibida a captura ou destruição de crias, covas, luras ou ovos de todas as espécies, cinegéticas ou não.
De qualquer forma, queremos chamar a atenção dos candidatos à Carta de Caçador para o
grupo de espécies geralmente designadas por rapinas, bem como para o lince e para a
abetarda, cujas populações se apresentam vulneráveis em Portugal.
AVES DE RAPINA
Tal como todas as outras aves que caçam para sobreviver, as aves de rapina são predadores, exceptuando-se os abutres que são necrófagos, dado alimentarem-se de cadáveres.
Ocorrem em Portugal, com regularidade de,26 espécies de rapinas diurnas (abutres, águias,
milhafres, açores, gaviões, falcões e peneireiros) e 7 espécies de rapinas nocturnas (bufos,
corujas e mochos).
De notar que estão incluídos no grupo das rapinas diurnas os abutres: grifo, abutre-negro
e abutre-do-Egipto. Embora sejam dois grupos de aves que não têm parentesco especial entre si, as rapinas diurnas e as nocturnas apresentam várias características semelhantes. Este facto deve-se a uma adaptação de ambos os grupos ao mesmo tipo de alimentação - a carne de animais vivos ou mortos.
A maior parte alimenta-se de pequenos animais - insectos, roedores, pássaros, lagartos,
cobras, sapos e rãs. Algumas espécies de maior porte preferem coelhos, lebres ou aves de tamanho médio - garças, gralhas, pegas, pombos, perdizes, gaios, etc.
Devido a características próprias que diferem de espécie para espécie, as aves de rapina
têm exigências diversas relativamente a biótopo de nidificação, espécie presa, biótopo de caça ou períodos de actividade preferenciais, pelo que raramente competem entre si. Frequentemente diz-se Que as aves de rapina exterminam a caça. No entanto, embora a maior parte inclua na sua alimentação espécies cinegéticas, o número de exemplares normalmente predados, raramente e de molde a influenciar negativamente a dinâmica populacional das presas.
Pode mesmo dizer-se que o principal efeito das aves de rapina sobre as presas em geral,e a caça em particular, e de selecção.
Esta função manifesta-se de diversas formas:
Captura preferencial das espécies mais abundantes, contribuindo para a adequação à
capacidade de suporte;
Captura preferencial das presas mais fáceis - crias, animais doentes e velhos - contribuindo para a manutenção quer da sanidade da população quer da sua estrutura etária.
Pelas razões apontadas, as rapinas não devem obrigatoriamente ser relacionadas com a diminuição da caça. Pelo contrário, a sua abundância e diversidade são indicadores seguros de que uma região possui comunidades animais ricas e sãs.
Apesar disto e embora de forma já mais atenuada, as aves de rapina que, relembremos, são estritamente protegidas pela Lei da Caça e outros diplomas legais, ainda são por vezes
capturadas e abatidas, detectando-se casos de destruição de ninhos e de criações.Para além da indisciplina de alguns caçadores, a degradação dos habitats provocada essencialmente pela modernização e intensificação local das práticas agrícolas, nomeadamente ao nível da alteração dos cobertos vegetais e da utilização de produtos químicos, levaram em primeira mão à rarefacção das populações de espécies presa e consequentemente ao declínio dos seus predadores.
Esta situação justificou que várias espécies de aves de rapina tivessem entrado na categoria de espécies ameaçadas, contando apenas com escassas dezenas de casais ou apresentando efectivos reprodutores ainda mais baixos, como por exemplo a águia-imperial (AquÌla heliaca adalberti) ou a águia-pesqueira (Pandion haliaetus) embora, nos últimos anos se venha notando uma nítida melhoria, fundamentalmente devida ao ordenamento da fauna cinegética levado a cabo num cada vez maior número de áreas bem geridas.
As aves de rapina são importantes para a caça e para a agricultura. É fundamental
uma acção consciente dos caçadores para evitar o desaparecimento destas espécies.